PUB

Fact-Checks

Fumar shisha ou cachimbo de água não faz mal à saúde?

A popularidade da shisha tem vindo a crescer nos países ocidentais, principalmente entre os jovens. No entanto, há várias questões que se levantam sobre este tipo de tabaco: será que fumar cachimbos de água é inócuo?

24 Abr 2024 - 10:41
falso

Fumar shisha ou cachimbo de água não faz mal à saúde?

A popularidade da shisha tem vindo a crescer nos países ocidentais, principalmente entre os jovens. No entanto, há várias questões que se levantam sobre este tipo de tabaco: será que fumar cachimbos de água é inócuo?

Um cachimbo de água no centro da mesa, um grupo de amigos a conviver e a fumar, passando o bocal de uns para os outros num bar com estilo oriental. Fumar shisha é uma prática centenária, com origem no Médio Oriente, mas tem vindo a tornar-se popular nos países do Ocidente.

Entre os jovens, o consumo de shisha é uma preocupação para as autoridades de saúde. Dados do Estudo sobre o Consumo de Álcool, Tabaco, Droga e outros Comportamentos Aditivos e Dependências 2019, publicado pelo SICAD, mostram que 15% dos jovens já tinha experimentado shisha em algum momento da vida, 10,5% tinham fumado este tipo de tabaco nos últimos 12 meses e 3,7% nos últimos 30 dias. O consumo diário – que corresponde a 20 ou mais ocasiões nos últimos 30 dias – ronda 1%.

PUB

Mas será que fumar shisha não faz mal à saúde, ao contrário do tabaco tradicional? Confirma-se que a água existente nos cachimbos filtra as toxinas? E é ou não verdade que este tipo de tabaco não tem nicotina?

Fuma shisha faz menos mal do que fumar tabaco tradicional?

fumar shisha faz mal à saúde tabaco

Existe a crença que fumar shisha não faz mal à saúde, mas essa alegação é falsa. É também mentira que a shisha tenha menos quantidade de nicotina do que os cigarros ou outros derivados do tabaco.

Sofia Ravara, pneumologista e coordenadora da Comissão de Trabalho de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, explica ao Viral que a “mistura de tabaco” colocada nos cachimbos de água contém “níveis de nicotina muito elevados”, o que faz com que os utilizadores possam desenvolver “adição ou dependência”, persistir no uso diário e, inclusive, começar a fumar outras formas de tabaco.

Quando questionado sobre os efeitos de fumar shisha, o médico pneumologista José Pedro Boléo-Tomé é categórico a responder que “não é muito diferente de fumar um cigarro”. 

À semelhança do tabaco tradicional, também a shisha contém um conjunto de toxinas comprovadamente prejudiciais à saúde humana, tais como alcatrão e metais pesados.

Outra falsidade associada ao consumo de shisha é o papel da água como “filtro” de toxinas: O pneumologista reconhece que “existe a ideia de que o recipiente de água [que integra os cachimbos] serve para filtrar as toxinas, mas isso não é verdade”. Pelo contrário, prossegue, “a quantidade de tóxicos que chega ao bocal é altíssima”.

Uma revisão publicada em 2019 reúne o conhecimento científico, à data, sobre o impacto do consumo de shisha no sistema respiratório e na saúde em geral. 

PUB

Os investigadores referem que o consumo de shisha contém vários elementos iguais aos presentes no cigarro, nomeadamente “grandes quantidades de nicotina, alcatrão, monóxido de carbono, compostos heterocíclicos, compostos carboxílicos e vários compostos inorgânicos, como metais pesados”.

Referem ainda que, apesar das crenças sobre o consumo de shisha, o uso regular deste tipo de tabaco é “associado ao aumento do risco de doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), assim como cancro do pulmão e tumores da cabeça e pescoço”.

Os mesmos riscos para a saúde são referidos pelo Centro norte-americano de Controlo e Prevenção de Doença (CDC, na sigla inglesa) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS). É ainda referido implicações na fertilidade, no refluxo gástrico e na saúde mental dos indivíduos.

No mesmo sentido, os dois pneumologistas contactados pelo Viral enumeraram uma série de problemas de saúde associados ao consumo regular de shisha: cancro do pulmão, da boca, do estômago e do esófago, diminuição da função pulmonar e doenças cardiovasculares.

Há ainda evidências de que o consumo deste tipo de tabaco interfere com o desenvolvimento fetal, estando associado a nascimentos de bebés com menor peso.

Segundo a Associação Americana para o Pulmão, existem “pelo menos 82 químicos tóxicos e carcinogénicos” no fumo da shisha. 

A mesma organização sublinha que “a combustão do carvão usada para aquecer a shisha pode constituir riscos adicionais para a saúde”, nomeadamente devido à libertação de “monóxido de carbono, metais e outros químicos”

José Pedro Boléo-Tomé e Sofia Ravara também referem que a combustão do carvão “vai emitir quantidades enormes de monóxido de carbono”. 

PUB

Este gás é inodoro e tem uma elevada toxicidade, podendo, inclusive, causar a morte por asfixia – como acontece em situações de incêndios ou em divisões aquecidas por braseiras sem uma ventilação apropriada.

O pneumologista remata que “a shisha tem todos os componentes que existem num cigarro, com algumas agravantes”. 

Também o CDC alerta que “fumar shisha não é uma alternativa segura a fumar cigarros”, aconselhando as pessoas a “deixar de usar produtos de tabaco para reduzir riscos de saúde”.

Transmissão de infeções e outros riscos associados ao consumo de shisha

fumar shisha faz mal à saúde tabaco

Quando se pensa em fumar um cigarro, imagina-se uma pessoa a fazê-lo durante alguns minutos. Quando se fala de fumar shisha, o cenário muda: pensa-se num consumo em contexto social – apesar de algumas pessoas consumirem de forma individual e regular –, podendo estender-se por várias horas.

A inalação durante um longo período poderá exponenciar os riscos associados, potenciando assim mais consequências para a saúde. 

José Pedro Boléo-Tomé explica que “o facto de ser um consumo mais intenso, mas diário, não torna [a shisha] melhor”, podendo os efeitos serem “tão maus ou até piores”.

As circunstâncias de consumo em grupo também acarretam riscos para a saúde. “Sendo um dispositivo partilhado, o cachimbo de água pode funcionar como um meio de transmissão de infeções. Muitas vezes, o próprio bocal pode passar de boca em boca, o que é perfeito para transmissão de bactérias e vírus”, acrescenta o pneumologista.

Também Sofia Ravara destaca que o cachimbo de água, por ser “um circuito montado pela própria pessoa”, pode acarretar uma série de variações prejudiciais à saúde. 

“Podem adicionar bebidas alcoólicas na água, podem usar marijuana”, exemplifica a pneumologista, sublinhando que,“nos Estados Unidos, cerca de metade dos utilizadores de cachimbo de água usa marijuana em vez de tabaco”.

PUB

José Pedro Boléo-Tomé sublinha que “apesar da aparência exótica” dos cachimbos de água, estes são “altamente tóxicos e perigosos”.

“Há uma ideia de que é uma coisa recreativa, interessante, engraçada, social e sem grande risco para a saúde, mas isso não é verdade”, remata.

LER MAIS ARTIGOS DO VIRAL:

PUB
falso

Categorias:

Pneumologia

24 Abr 2024 - 10:41

Partilhar:

PUB